Entrevista realizada em Dezembro de 2006 ao director do Panorama Festival de Dança, no âmbito do projecto internacional coLABoratório - Encontro Sul-Americano Europeu de Coreógrafos. Catarina Medina - Quais eram as tuas expectativas inicias para este projecto? Eduardo Bonito - A expectativa principal era que alguma coisa se passasse relativamente aos artistas da América Latina e que se conseguissem criar relações artísticas mais fortes entre as pessoas para que isso no futuro possa reverter em pequenas redes entre artistas, possibilidades para os artistas circularem. Claro que queríamos que todos se conhecessem, criassem projectos consistentes, mas acima de tudo que a experiência de encontro fosse mais frutífera possível e que tudo acontece num ambiente organizado, com uma infra-estrutura boa para que esses encontros pudessem acontecer. EB – Tentámos colocar pessoas que viessem de vários lugares diferentes da dança, com tipos de trabalho e maturidade diferentes, além da questão geográfica e cultural. Além dos parceiros e co-organizadores que já tínhamos, onde dois artistas vinham de três cidades na Europa e dois de cada uma das cidades no Brasil, tentámos procurar pessoas noutros lugares da Europa e da América Latina, que pudessem compor esse conceito de maturidades artísticas, idades e quantidades de tempo de trabalho diferentes e experiências diferentes. CM – Acabaram por programar alguns deles no festival Panorama? EB – Achamos importantes mostrar os trabalhos de alguns deles, para que pudessem ver entre eles e o público pudesse ver e tinha vários trabalhos interessantes para mostrar no Panorama. Aproveitando que estava todo o mundo no festival foi uma ideia que deu certo, porque também trouxe uma relação destes artistas com o público e ainda uma possibilidade deles se verem trabalhando e discutirem a forma. CM – Porquê 20 coreógrafos? EB – Isso é matemática da Comunidade Europeia. Sabíamos que tínhamos uma quantidade de dinheiro, queríamos fazer com um número de pessoas que fosse o suficiente para criar projectos suficientes para circular em três cidades e 20 foi o número que resultou das contas. EB – De todo o trabalho o que mais me emociona é isso. Ver como a experiência dos brasileiros e dos europeus é algo que já trabalha com a ideia de residências e desenvolvimento artístico de uma forma um pouco mais sofisticada. E que existe pouquíssima possibilidade para artistas da América Latina, em geral terem acesso a esse tipo de processo e que isso é uma das coisas que foi mais emocionante ver, a alegria e o entusiasmo das pessoas, quando foram seleccionadas. Ver agora também quão importante foi. E talvez uma experiência que mude a percepção destes artistas do que pode ser os horizontes dos processos de colaboração. EB – Vamos sempre fazer iniciativas deste género, cada vez experimentamos com um formato diferente para testar, como foi os Encontros 2005-2006, que foi um projecto super bonito para o Panorama, uma iniciativa do alkantara. E muitos outros projectos de residência que organizámos. A tendência é conseguirmos cada vez mais fundos internacionais para apoiar esse tipo de trabalho e tentar integrar cada vez mais as diferentes culturas nos projectos futuros. EB – Tenho de agradecer muito a confiança de todos os parceiros que deram a liberdade do Panorama desenhar o projecto com muito respeito e tenho certeza que vamos continuar a trabalhar com esses parceiros no futuro. Para os artistas eu agradeço muito a generosidade de todos eles, de terem se proposto a colocarem-se nesta posição, às vezes muito dura. Quando lemos os relatórios finais, é perceptível que para muita gente apesar de ter sido uma experiência muito gratificante, foi um processo de muita dedicação, de muitos momentos de sofrimento e acho que todos se portaram super generosamente e só posso também agradecer à generosidade de todos. Sinto que chegámos em algum lugar e que tudo funcionou mais ou menos como previsto.
CM – Qual foi o critério de escolha para participar neste projecto, nomeadamente nos países da América do Sul?
CM – Mudavas alguma coisa neste processo? Nomeadamente a questão do apoio dramatúrgico contínuo, do qual vários artistas sentiram falta neste mês de residência?
EB – Nós deixámos que a auto-organização dos artistas falasse por ela própria e acho que eles na tentativa de não perder um minuto dos coordenadores e nem deles próprios acabaram dando muito tempo fazendo tudo e se cansaram um pouco. Mas é muito difícil avaliar que caminho é melhor, ou que caminho é pior. Acho que foi uma decisão deles, imagino que poderíamos ter trabalhado com os profissionais de outra forma, mas acho que funcionou bem.
CM – Passada esta primeira fase com projectos formados, que esperança tens para estes projectos, achas que serão apresentações pontuais ou que pode mesmo resultar como aconteceu nos Encontros 2005-2006?
EB – Sei que há trabalhos que nem foram apresentados ainda, que já tem lugar para se apresentar com os nossos parceiros fora do Brasil, o que já é muito interessante. Mas imagino que os trabalhos vão ter uma certa dificuldade em viajar, porque são todas pessoas que moram em lugares distantes, mas imagino que algumas dessas obras devem circular. Embora o mais importante é que estes artistas trabalharam e estão a criar algo juntos, que vai ser uma reflexão do que foi o processo e esse resultado artístico vai ser comunicado ao público nas três cidades distintas no Brasil e isso já é, por si só, um objectivo muito nobre. Se conseguirmos que as obras circulem vou ficar muito mais feliz, as obras menores vão ter mais facilidade e as obras que tem muita gente vão ter mais dificuldade de circular pela questão financeira.
CM – Para os Europeus o conceito de residência não é novidade, mas para os sul americanos sim. Existe um orgulho por parte da organização em possibilitar um leque de novas oportunidades e realidades a quem não lhes tinha acesso?
CM – Faz sentido novas sequelas deste tipo de projectos?
CM – Uma mensagem para os parceiros e artistas?